miércoles, 20 de febrero de 2013

Patricia Melo (1962), Matador, 1996

Paulistana, autora de vários livros (Matador, Inferno, Elogio da mentira, Ladrão de cadáveres, etc.) e roteirista de filmes e novelas, esta escritora constitue uma grata surpresa no panorama literário latinoamericano e confirma uma tendência das artes brasileiras que recria a vida dos marginais no contexto das grandes urbes modernas. Se Inferno (2000) retrata a existencia de um menino na favela de Rio de Janeiro, marcada pelo seu envolvimento com o narcotráfico na procura do ascenso social, e sua dependência química, Matador (1996) acontece na periferia de São Paulo.

Hoje e mais normal achar filmes, novelas e seriados que tratando da violência na periferia das grandes metrópoles, mas quando Patricia Melo começou a escrever não era tão habitual a descrição da realidade periférica. Os romances de Patricia Melo não visam a denunciar uma problemática de gênero. Embora este tema esteja presente de jeito subjacente na trama geral das suas obras, ela põe o foco em uma personagem masculina dos subúrbios e indaga na sua mentalidade.

A estrutura narrativa de Matador desenvolve-se em um extenso monólogo interior do protagonista. Esta técnica narrativa determina o estilo lingüístico do romance, caraterizado pela sintaxe livre, os parágrafos longos e a linguagem coloquial com uma grande cantidade de palavrões e a jiria própria do mundo no qual se desenvolve a personagem.

Os romances de Patricia Melo têm uma tendência cinematográfica, são road movies nas quais a personagem principal se envolve em uma brutal carreira que indefectivelmente acaba mal. Nessa vertigem, sexo, álcool, drogas, música e violência serven para criar o perfil do anti-heroe moderno, que precisa manifestar sua individualidade em un mundo que o condena ao ostracismo e ao anonimato.

Eis a clave do sucesso de Patricia Melo: a indagação psicológica na mente do indivíduo marginal que tem uma aguda consciência de si propio, e que não suporta sentir-se ridiculizado pelos outros. Este sentimento determina o começo do romance: Máiquel tinge seu cabelo de loiro por uma aposta de futebol, esse simples fato faz com que mude o seu jeito e sintese-se un homem diferente. Quando chega o boteco, Suel, um garoto do bairro, faz piadas com seu cabelo, dizendo que parece com um gringo. Máiquel fica com raiva e decide vingar-se. O dia seguinte aparece com uma espingarda e ainda que o Suel não oferece resistência, Maiquel dispara.

O assassinato, longe de fazer com que o bairro critique a Máiquel, converte o garoto em um heroe, e quando ele decide ausentar-se e ir embora, alguns moradores dão-lhe os parabéns por ter matado o Suel. Então seu status no bairro acrescenta-se e decide ficar.

Este romance teve uma adaptação ao cinema com o filme O homem do ano (2003), de José Henrique Fonseca (foi sua primeira longa-metragem). No roteiro participaram a própria Patricia Melo e o pai de José Henrique, o escritor Rubem Fonseca. Esse filme, que se insere na estética de Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, constitue, com filmes posteriores como Estômago (2007), de Marcos Jorge, ou a aclamada Tropa de elite (2007), de José Padilha, uma interesante linha de neorrealismo que visa a refletir a complexa realidade brasileira atual, em um contexto de crecimento e desenvolvimento econômico no qual, no entanto, a desigualdade social parece não ter fim.

*Assistir o filme O homem do ano:
http://www.youtube.com/watch?v=1lVGv4y8-Gc


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